Ana Claudia Cichon
Ontem mostramos aqui o lado
politizado do Autônomos F.C, fora das quatro linhas. Hoje o foco será o
futebol, os títulos e as histórias que do time, que já jogou competições na
Inglaterra e na Argentina.
Em 2006, quando foi criado,
o Auto iniciou suas atividades no futebol 7. O retrospecto foi o seguinte: 2
vitórias, 1 empate e mais de 40 derrotas. “Foram muitos e muitos jogos até
conseguir a primeira vitória, que foi comemorada como título”, conta Danilo
Mandioca, um dos fundadores do time. “A gente cantava músicas punks enquanto
jogava, e os adversários tinham uma simpatia ou um pouco de raiva, talvez
porque a gente só perdia, mas continuava se divertindo”.
No ano seguinte, porém,
trocaram o society pelo futebol varzeano, e ali se encontraram. Passaram a
jogar na Lapa, no CDM Bento Bicudo, o chamado
Bicudão, na Lapa, e não pararam de crescer. Hoje o Auto conta com três quadros:
futebol misto, que de vez em quando joga futsal, masculino e feminino.
“O futebol amador em São Paulo tem uma história e uma tradição longas. Tem muito craque de Copa do Mundo que saiu da várzea. Quando viemos pra ela, tínhamos isso em mente, que o futebol apaixonado, pela camisa mesmo, aquele em que acreditávamos, estava ali, no terrão. Claro que também rola dinheiro na várzea, tem esferas dela que são quase profissionais, mas pra gente a várzea sempre dependerá da paixão dos times, das comunidades, dos bairros pra existir e fazer sentido. Enquanto um time autogestionário e de esquerda, com valores de democracia direta e relações com os ideais anarquistas, a gente entende a várzea como um espaço de poder popular, de exercício do futebol popular mesmo, não esse futebol comercial engolido pelo dinheiro. Por isso respeitamos a várzea, sem deixar também de criticá-la no que achamos que deva ser criticada. Tivemos alguns problemas por jogar com meninas no time, por exemplo, mas a nossa ideia não é a de que somos melhores ou piores que ninguém por isso, e sim que na várzea cabe todo mundo, dentro e fora de campo”, fala Mandioca.
No
Brasil e no exterior
Graças ao crescimento
do time e também ao pensamento diferenciado, o Auto se tornou um time
mundialmente conhecido. Além de disputar campeonatos amadores oficiais,
organizados pela Federação Paulista, Prefeitura e Secretaria de Esportes, o
clube também participa de torneios realizados por pessoas de times e campos que
tomam a iniciativa e se organizam entre si, como acontece com a Copa Autonomia,
de responsabilidade do Autônomos.
Mas as participações
não param por aí. Em 2010 o Autônomos foi até a Inglaterra disputar o Mundial
Alternativo, a convite do Easton Cowboys. “Eles tem um ideal parecido com o do
Auto e existem desde 1992. Eles vieram jogar conosco em 2009 e nos convidaram a
disputar o Mundial Alternativo, na Inglaterra, no ano seguinte”, explica
Mandioca.
Primeira partida do Auto na Inglaterra Foto: Arquivo Autônomos F.C. |
Intercâmbio futebolístico e cultural Foto: Arquivo Autônomos F.C. |
Auto e Easton Cowboys contra o Racismo Foto: Arquivo Autônomos F.C. |
Auto campeão da Copa América Alternativa, na Argentina Foto: Arquivo Autônomos F.C. |
Em 2012, houve a I Copa América Alternativa,
realizada em Jesus María, Cordoba, Argentina, e o Autônomos se sagrou campeão
da competição. “Um título quase milagroso, somente com empates.
Classificamos aos trancos e barrancos e no mata-mata vencemos as três fases nos
pênaltis”, relembra Gabriel Brito, um dos atletas do Auto.
Entre outras
lembranças, Gabriel destaca dois jogos. “Os jogos de 2008 no campo da Salim
Farah Maluf (Zona Leste), firmaram o Auto. Desse ano, posso citar a “Batalha da
Curva”, um jogo que fizemos na sequência de outro, quase com os mesmos
jogadores, debaixo de muita chuva, com jogador de linha no gol, vários
improvisos táticos e muito pessimismo. Armamos a retranca e começamos a jogar
no contra ataque. De forma quase inexplicável, o primeiro tempo foi 3-0 pra
gente, com um jogador de cada time expulso. Tomamos um gol, fizemos o 4º no
contra ataque de novo, tomamos o segundo e ainda fizemos um pênalti. Nosso
goleiro improvisado defendeu, mas logo depois tomamos o terceiro. O jogo não
acabava, nosso time despedaçado em campo, tiramos umas 40 bolas da área,
tivemos uns três jogadores com câimbras, mas por fim acabou. Depois de uma hora de segundo tempo, fim de
jogo, Auto campeão. Fomos para o
vestiário e nem conseguíamos nos mexer. Ficamos lá dentro mesmo, tomando
cerveja pra comemorar, até anoitecer, saindo quase de muletas dali”.
Este
espírito de luta e união é o que resume o Autônomos Futebol Clube, que acredita
na várzea e em seus ideais de clube autogerido. Se você se interessou pela história do time e quer saber mais, confira no site as novidades, resultados e outras curiosidades.
Esse depoimento do Mandioca está muito grande. Deveria ser editado ao longo do texto. Foi dado para o blog? Não ficou claro...
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